A missão exige despojamento
A narrativa do envio dos Doze encontra-se nos três evangelhos sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas), com algumas variantes peculiares a cada evangelista.
Marcos já registrara que Jesus constituíra os Doze para que ficassem com ele,
para enviá-los a pregar (Mc 3,14). Depois de um tempo de convívio, conhecimento
e experiência comum de vida, Jesus, agora, os envia integrando-os em sua
própria missão. Marcos destaca que os discípulos foram enviados dois a dois. O
chamado dos discípulos, no início do ministério de Jesus, também fora de dois
em dois. Na missão prevalece a dimensão da parceria, do diálogo e da
solidariedade, na corresponsabilidade, sem disputas de liderança.
Marcos não mostra um maior interesse quanto ao desenvolvimento e sucesso da
missão a que os Doze foram enviados, dedicando a isto apenas alguns versículos
(6,12s.30). Ele consagra seu texto às instruções de Jesus. O seu interesse
maior é destacar a metodologia a ser assumida, que serve de paradigma para as
comunidades em continuidade à missão de Jesus e de seus discípulos. O
despojamento proposto é essencial à missão. A pobreza deve ser assumida, não
como ostentação de virtude, mas como abandono real nas mãos de Deus, confiantes
na bondade e na hospitalidade daqueles que encontrarem pelo caminho. O que for
necessário para a caminhada deve ser levado pelos discípulos, por exemplo, as
sandálias e o cajado (em Mateus eles estão proibidos, e Lucas os omite). A casa
é a base da missão. Aquelas em que os discípulos forem recebidos podem ser
novos centros de missão, formando uma rede missionária.
A proclamação à conversão é ousada e contundente, como testemunhou o profeta
Amós, denunciando uma religião a serviço do poder, tendo seu santuário como
dependência do palácio real (primeira leitura). No mesmo estilo foi erigido o
Templo de Jerusalém, como anexo do palácio de Salomão, no qual eram acumuladas
imensas riquezas. Jesus, no seu tempo, o denunciará como sendo covil de
ladrões.
Na carta aos Efésios (segunda leitura), que na tradição cristã havia sido atribuída
a Paulo, é destacada a redenção operada por Cristo, na perspectiva sacrifical
característica das comunidades primitivas vinculadas a Jerusalém. Porém, na
perspectiva da simplicidade da encarnação, já se tem a revelação do imenso amor
de Deus, Pai e Mãe. Pela vida de Jesus de Nazaré, Filho de Deus e filho de
Maria, em seus anos de convívio amoroso com seus discípulos e as multidões,
Deus revelou a sua escolha a todos os homens e mulheres para participarem de
sua Vida divina e eterna, na prática do amor, seguindo o caminho de Jesus.
José Raimundo Oliva
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/evangelho.aspx
Nenhum comentário:
Postar um comentário