“Juventude e Vida, que vida vale a pena ser vivida?”. Com este tema e lema, jovens de todo o Brasil se reunirão neste domingo para um grito de anúncio da força da vida e de denúncia do massacre imposto à sua geração.
Para sustentar este grito há muito sangue derramado, muito Bartimeu sentado à beira do caminho e também, muita esperança! O Dia Nacional da Juventude (DNJ) vem preparado desde o inicio do ano, quando na Campanha da Fraternidade sobre Segurança Pública, já éramos desafiados a refletir sobre o escândalo da violência que vem ceifando vidas adolescentes e jovens por este Brasil afora.
Jovens e adultos, inquietos e inconformados, mas ainda sentados à beira do caminho, todos clamamos como Bartimeu: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim!”. As multidões arrastadas pela mídia nos mandam calar, nos impõem o conformismo, a indiferença e a morte na escuridão... Mas, quem um dia já enxergou, não suporta a cegueira, e grita, insistentemente grita.
E neste domingo, justamente no sétimo dia de tantos mortos pela violência no Rio de Janeiro, a juventude faz de seu grito um apelo por luz e vida.
Celebrar a entrada de Jesus em Jericó neste domingo, é trazer sua presença para nosso meio, é ver que Ele para; e é ouvi-lo novamente ordenando a multidão: “Chamai-o”.
A ordem de Jesus tem força criadora. No Evangelho de Marcos, ela consegue fazer a multidão parar, ver um cego sentado à beira do caminho, e comunicar-lhe um chamado que gera vida. A Boa Nova de paz em tempo de guerra e violência vem desta ordem.
Ainda hoje Jesus está passando por nossas comunidades e nos ordenando: “Chamai-os!” Chamai os jovens que estão à beira do caminho clamando por sentido de vida, esperança de ser amados, luz para caminhar; chamai os moradores das periferias que andam sentados em seu pequeno mundo, paralisados pelo medo e pelo desânimo, chamai as mulheres violentadas que ainda na adolescência vêem seus direitos desrespeitados, chamai os que estão sentados à beira do caminho da vida...
Diante deste Evangelho somos desafiados a uma séria revisão de nossa ação missionária, evangelizadora e pastoral. Há muitas pessoas esperando apenas um chamado, muitos e muitas que esperam irmãos e irmãs das comunidades, lhes comunicar esta Boa Noticia: “Coragem, Ele te chama!”
Entre estas pessoas, vemos a nova geração: a primeira geração do terceiro milênio que grita com sua linguagem, com suas pixações, seu grafite, sua rebeldia...
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Conferência dos Religiosos do Brasil propuseram que este ano de 2009 seria o ano da escuta da juventude, uma escuta respeitosa, uma escuta amorosa... Como realizar esta escuta?
Também aqui é Jesus no Evangelho de hoje que nos ensina, quando pergunta a Bartimeu: “Que queres que eu te faça?” Mesmo vendo este desejo das duas grandes instituições da Igreja Católica, parece que temos medo de fazer esta pergunta aos jovens. Temos medo de escutá-los, eles nos ameaçam com suas interrogações, sua busca, seus sonhos...
Mesmo assim, quem corre o risco encontra uma surpresa, como Jesus encontrou. A palavra que antes parecia agressão e revolta, agora se expressa num pedido: “Senhor que eu veja”.
Bartimeu, os jovens, os pobres, os que estão à margem das nossas comunidades querem ser ouvidos em seu grito, querem nos expressar este desejo que habita todo coração humano: ver. Ver com um novo olhar, ver o que está escondido, ver um horizonte, ver uma esperança.
Como a Bartimeu, neste Dia Nacional da Juventude, Jesus quer dizer com a voz de nossas comunidades e de todos os grupos que trabalham com a juventude: “Vai, a tua fé te curou”. Ele nos desafia a encontrar na fé o sentido de nossa existência e as possibilidades escondidas para a paz, a vida e o respeito aos mais pequenos. Ele nos desafia a uma fé adulta que gera o caminho do discipulado a partir do encontro com Ele,
Bartimeu, diante da palavra de Jesus não se foi, mas continuou seguindo Jesus pelo caminho. Seu testemunho certamente esteve presente nas primeiras comunidades de discípulos como que a desafiar homens e mulheres a ver o que está escondido, a ver além das aparências, a caminhar com uma nova luz: aquela que está adiante convidando constantemente a levantar a caminhar, a agir.
Já o profeta Jeremias na primeira leitura proclama a ação de Deus a partir de suas próprias palavras: Eu os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão os que retornam.
Jesus realiza esta profecia na vida de Bartimeu como um sinal. Hoje ele quer continuar a realizar esta profecia. Pela força de sua Palavra e pela força da Eucaristia, hoje Ele reúne juventudes de vários rostos que caminham dispersas e tantas vezes sem rumo. Reúne para libertar, reúne para conduzir, reúne para convocá-los a seguir seus passos.
Como Mestre, Ele nos ensine a escutar os desejos mais profundos que habitam o coração desta geração. Como Senhor, Ele caminhe à nossa frente e à frente desta geração. Como Libertador, ele nos liberte da cegueira que nos paralisa e caminhe à nossa frente em direção de um tempo de menos violência e mais vida para todos.
Neste Dia Nacional da Juventude, vocês jovens são aqueles que podem nos ajudar a retomar o caminho com um novo entusiasmo, uma nova esperança... e nós queremos ser para vocês ouvidos e corações abertos para acolher sua palavra e nos tornar companheiros ao longo do caminho.
Seja a memória dos mártires da violência a nos conclamar: Coragem, levantem-se, Ele vos chama.
Pe. Marcos Paulo
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